Em toda arte autêntica, a realidade não deve ser mostrada, e sim transfigurada em sua representação. Poderíamos dizer que o mundo do artista deve ser manifesto, e a possibilidade de desvelamento desse mundo encontra-se na representação de sua subjetividade, fonte inesgotável de criação. Mas não podemos esquecer o centro de referência dessa subjetividade, que paradoxalmente deve ser a realidade, mas transfigurada, e por isso, compreendida como arte. No livro O discípulo de Emaús, o poeta Murilo Mendes diz:
“A realidade deve ser pouco a pouco domada, até ser captada pelo lirismo – para que se opere sua transformação, e elevação ao plano do espírito. Assim se forma a criação artística.”
Podemos encontrar a ressonância das palavras do grande poeta mineiro nos desenhos de Rui Cavaleiro Azevedo, o Ruaz. Sua obra compõe o exemplo de uma arte autêntica em seus princípios. Traços de uma figuração expressionista, cuja representação artística revela uma imagética dos sentimentos. Somos convidados, como expectadores, a integrar suas cenas, pelo núcleo humano que as alimenta, ou seja, a subjetividade de seu criador; transfiguração de uma vivência poética do mundo circundante e suas significações. Cito novamente Murilo Mendes:
“O homem terá que fazer tudo desde o princípio; deverá antes de mais nada redescobrir o sentimento.”
E concluo:
Ruaz: apreensão do mundo em sentimentos vividos.
Hilton Valeriano
Nenhum comentário:
Postar um comentário