sábado, 31 de outubro de 2009

LOCUS AMOENUS



Existe, na geografia retórico-poética do Ocidente, uma paisagem ideal; ela constitui, pelo menos até o século XVIII, o motivo principal de toda descrição da natureza; seu mínimo de apresentação consiste, como nesta passagem ovidiana, “numa árvore (ou várias), numa campina e numa fonte ou regato.” Trata-se de um topos tecnicamente chamado de locus amoenus, embora na poesia arcaica – antes, portanto, das nomenclaturas retóricas – esse lugar fosse o ponto em que o homem se enlaça à phýsis, que é divina. É ainda no quadro de uma sintonia entre o sagrado e o humano que Virgílio situa no tempo e no espaço seus pastores, embora Horácio já denunciasse a transformação de descrições desse tipo em simples procedimentos ou estilemas.



Joaquim Brasil Fontes, Eros, tecelão de mitos. Ed. Iluminuras

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