(Ismael Nery)
Carta ao Passado
Haverá flores ou não,
Assim como — fatigados ou não
— os objetos passam;
Neutro passa o rio
silenciosamente
e compõe um outro universo
triste e feliz:
Amiga, sente comigo e
conversemos de mar a mar
sobre o mar à nossa frente,
Sente comigo, as mãos
abraçando o ar,
Pois que abraçar as mãos é
trocar aspirações
por nada.
Sente comigo e conversemos
— ou não —
Permanecendo como estátuas
até que venha chuva,
E a Terra, vendo que somos
água
— ou adubo —
Sugue também os intermináveis
corpos
e esconda de nós
os corações dentro de si.
Então estará completa
a natureza que nos completa,
E ambos inermes e unos
sob o solo nos confundiremos
em longo abraço
corpo a corpo, como devem ser
estes abraços ideais.
E que não haja preocupações
em amar:
Abandonados de intenções,
Quando morto serei a noite
que nos esconderá
sob cobertor de terra,
Serei o sol
que virá acordar
da vida
os nossos corpos resumidos.
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