1 – Quando se ocorreu seu contato inicial com a literatura e quais são suas
influências literárias?
Sempre gostei de ler e escrever.
E sempre escrevi, mas não pensava em ser escritora. Acho que a gente nasce
escritor, com essa necessidade de traduzir o mundo em palavras. Antigamente
escrevia em blogs e cartas, e coisas que hoje sei que eram poemas. A história
de Reencontro eu pretendia escrever havia vários anos. Sobre minhas influências
literárias, em primeiro lugar, como se vê em Reencontro, me inspira Clarice
Lispector. Muitas de minhas inspirações estão em Reencontro: Mario Quintana,
Cecília Meireles, Erico Veríssimo... Gosto de Oscar Wilde, um
revolucionário, de Hermann Hesse, de Umberto Eco... Há romancistas e poetas que
me inspiram, já que escrevo poemas e romances, além de contos. Mas confesso que
gostaria de ter lido mais clássicos e pretendo.
2 – A narrativa de Reencontro trata de questões presentes no cotidiano de
muitas pessoas ao longo de sua vida como crises familiares, a descoberta do
amor, traição, a busca da felicidade e as desilusões que podem acometer todo
ser humano. Estaria o romance Reencontro a dizer: o sentido da vida, sua
justificação existencial estaria nas entrelinhas do cotidiano?
É um livro existencialista, como
acho que tudo o que escrevo em certa porção. Um livro que, através do
cotidiano, busca o que está mais profundo, o que está além do visível ou do
previsível. Que aborda grandes questões da vida, como as que citaste, para
narrar a história de um reencontro em vários sentidos. Reencontro é um livro
que o tempo inteiro busca o sentido da vida e das coisas, narrando a história
de uma personagem questionadora. E para essa busca a poesia, através de
citações no livro, contribui. A poesia tenta compreender a vida, como a música.
Eu procurei não afastar o existencialismo do cotidiano, do que todos nós
vivemos.
3 – Seu romance recupera de certa forma uma narrativa convencional ou mesmo
tradicional no plano da escrita, sem experimentalismos linguísticos ou
temáticas intimistas. Comente esse aspecto de sua obra.
Sei que o que escrevo é de forma
natural, de dentro para fora. Procuro não me ater muito a rótulos, mas posso
dizer que minha narrativa está misturada à prosa poética e a fatos do
cotidiano. Realmente procurei em Reencontro fugir da temática excessivamente
intimista, fazendo uma obra repleta de fatos e de relacionamentos, sem, no entanto,
excluir o sentimentalismo e a subjetividade. Acho que não consigo alçar a
descrição de minha escrita, a não ser que é inocentemente pura.
4 – A escrita jovial, a constante referência a cultura pop e a personagem
central do romance Reencontro, repleta de conflitos expressos em sentimentos
contraditórios, marcam uma ficção que pode de certa forma estar ao alcance do
público mais jovem. Essa dimensão de seu romance foi proposital?
Não foi proposital, o livro
simplesmente nasceu. Mas, como trata de uma personagem jovem, cercada de
personagens jovens, tende a atrair temáticas e referências joviais. Um romance
jovial pode ser atemporal ou independer de idade para ser apreciado, como “O
Apanhador no Campo de Centeio”, mas as temáticas tendem a ser semelhantes. Personagens
conflitantes, como geralmente são os jovens, e cultura jovem. Mas Reencontro,
penso eu, é um livro para todas as idades, para pais e filhos. É claro que, por
causa das referências e das temáticas, o público jovem tende a gostar mais ou se
identificar mais com o livro. A verdade é que não pensei em escrevê-lo só para
jovens, ou até especialmente para eles. Procurei escrever a história de uma
garota que busca se reencontrar e reencontrar o amor no qual um dia, quando
tinha a necessária inocência de uma criança, acreditou.
5 – Como ocorreu a composição do romance Reencontro e qual a relação
estrutural das epígrafes em cada capítulo?
Foi aos poucos que o livro foi
sendo moldado. Revisei várias vezes, acrescentando coisas. Levei um ano e meio
para escrever Reencontro. Havia uma primeira versão há anos atrás que perdi,
mas mais incompleta. Posso dizer que a composição do livro foi muito íntima. As
epígrafes procuram retratar os sentimentos da personagem em cada capítulo e
suas vivências. São partes de poemas, livros ou letras de músicas que a
personagem aprecia. Assim, misturei escritores e músicas clássicos ao cotidiano
pop de uma garota atual.
6 – Até que ponto a ficção é biografia, e até que ponto a realidade é
ficção em Reencontro?
Boa pergunta! De certa forma, nem
eu posso dimensionar isso. Federico Fellini disse que “Toda arte é
autobiográfica, a pérola é a autobiografia da ostra.” Acredito que o livro tem
mais de mim do que eu possa supor. Não é uma autobiografia, Ana Luiza foi uma
personagem criada, porém é inegável para mim que ela tem muito da minha
essência, ainda mais por ter sido a primeira personagem de romance. Procurei
tratar de temas comuns hoje em dia como drogas, alcoolismo, conflitos na
família, área profissional, a busca do amor romântico em nosso mundo corrido
que deixou um pouco o existencialismo de lado, e abordei também amizade, que é
um tema muito bonito porque é uma forma pura de amor quando é verdadeira. Muitas
pessoas me dizem: “A Ana Luiza tinha tudo para ser feliz”, mas o que procurei
mostrar no livro foi que a felicidade não está no ter, mas no ser. O único
“ter” que importa é “ter amor”. Podemos ter tudo, financeira e fisicamente, mas
quando falta amor e há um passado de dor e um presente de solidão, não existe
felicidade. A felicidade está em perdoar, em se perdoar e em acreditar nos
próprios sonhos e no amor. É isso que Reencontro busca mostrar: que, apesar de
todos os problemas, tudo vale a pena quando a gente ama, é amado e acredita. E
que todo dia é dia de reencontrar, e finalmente poder amar.
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