quarta-feira, 14 de março de 2012

ENSAIO





ABSTRAÇÃO, FIGURAÇÃO E INTEGRAÇÃO: A PINTURA DE FELIPE GÓES





Hilton Valeriano





A arte é o invólucro da verdade.”




Se a arte é a forma visível da representação, o universo temático de Felipe Góes mostra-nos a simbiose entre a abstração e a figuração. Paisagens marcadas por uma luminosidade integradora de cores que proporcionam a impressão de anulação do expectador ante as cenas, ou seja, o sentimento pleno de estar inserido em um espaço de vivência não apreendido reflexivamente. Se no âmbito da fenomenologia a consciência encontra-se sempre em um estado intencional, a pintura de Felipe Góes nos leva ao questionamento da possibilidade de apreensão do real como vivência intencional da subjetividade. O “eu” como oposição ao meio – representado pelas cenas e paisagens – dissolve-se por não se delimitar como consciência reflexiva e sim como sentimento integrado. Uma característica peculiar de sua pintura gerada pelo jogo de cores ou ofuscação parcial de suas diferenças em um processo de luminosidade e leveza. Se for comum a alguns artistas revelarem seu intento, a obra de Felipe Góes traz em si a ocultação pelo jogo expressivo das cores e suas possibilidades de apreensão. Apreensão como vivência não reflexiva. Poderíamos dizer que sua arte não se encerra em um plano conceitual. Outra característica importante de sua pintura é a relação que se estabelece entre a parte abstrata e figurativa de suas telas. A figuração estabelece-se em uma planificação abstrata. Esse plano abstrato é responsável por engendrar a carga significativa da obra. Em suas cenas ou paisagens não há ruptura entre abstração e figuração e sim complementação semântica. Destaquemos alguns paradigmas estéticos de reflexão proporcionados por essa obra autêntica.




1 – As cores não devem apenas prover os sentidos, mas engendrar o sentimento de toda criação.



 A apreensão da obra em seu âmbito figurativo evidencia o plano criativo do artista, mas não como compreensão conceitual ou referência de estéticas que tenham influenciado o pintor em seu gesto criador. A apreensão se dá como participação intersubjetiva, como fruição estética decorrente da conjunção de cores e sua planificação.





2 – O plano figurativo de uma obra pode estruturar-se a partir de uma dimensão abstrata provedora de significação.


As paisagens ou figuras estruturam-se a partir da relação conjuntiva das cores e sua planificação abstrata. A dimensão abstrata apresenta-se como provedora da figuração e significação da obra.





3 – A apreensão de um universo temático como vivência não reflexiva.


O expectador é tomado pelo conjunto figurativo. O contato com a obra dá-se pela imersão vivencial. Vive-se a obra como figuração de uma realidade onde a consciência está imersa como parte integrada e não reflexiva.



4 – A obra como ocultação do intento do artista.


A conjunção entre dimensão abstrata e figurativa gera a multiplicidade de significação. Conseqüentemente o intento criativo do artista torna-se oculto ou obliterado pela vivência subjetiva do expectador.




5 – A obra como jogo de apreensão de vivências mediante a anulação do “eu” expectador.


Na pintura de Felipe Góes traça-se a anulação da consciência reflexiva em prol de uma vivência apreensiva da obra. A pintura de Felipe Góes não pode ser pensada antes de ser vivida em sua significação.





Um comentário:

  1. Muito obrigado pela analise e divulgação de meu trabalho !

    Nosso dialogo foi muito enriquecedor.

    abraços

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