ABSTRAÇÃO, FIGURAÇÃO E INTEGRAÇÃO: A PINTURA DE FELIPE GÓES
Hilton Valeriano
“A arte é o invólucro da verdade.”
Se a arte é a forma visível da
representação, o universo temático de Felipe Góes mostra-nos a simbiose entre a
abstração e a figuração. Paisagens marcadas por uma luminosidade integradora de
cores que proporcionam a impressão de anulação do expectador ante as cenas, ou
seja, o sentimento pleno de estar inserido em um espaço de vivência não
apreendido reflexivamente. Se no âmbito da fenomenologia a consciência
encontra-se sempre em um estado intencional, a pintura de Felipe Góes nos leva
ao questionamento da possibilidade de apreensão do real como vivência
intencional da subjetividade. O “eu” como oposição ao meio – representado pelas
cenas e paisagens – dissolve-se por não se delimitar como consciência reflexiva
e sim como sentimento integrado. Uma característica peculiar de sua pintura
gerada pelo jogo de cores ou ofuscação parcial de suas diferenças em um
processo de luminosidade e leveza. Se for comum a alguns artistas revelarem seu
intento, a obra de Felipe Góes traz em si a ocultação pelo jogo expressivo das
cores e suas possibilidades de apreensão. Apreensão como vivência não
reflexiva. Poderíamos dizer que sua arte não se encerra em um plano conceitual.
Outra característica importante de sua pintura é a relação que se estabelece
entre a parte abstrata e figurativa de suas telas. A figuração estabelece-se em
uma planificação abstrata. Esse plano abstrato é responsável por engendrar a
carga significativa da obra. Em suas cenas ou paisagens não há ruptura entre
abstração e figuração e sim complementação semântica. Destaquemos alguns
paradigmas estéticos de reflexão proporcionados por essa obra autêntica.
1 – As cores não devem apenas prover os sentidos, mas engendrar o
sentimento de toda criação.
2 – O plano figurativo de uma obra pode estruturar-se a partir de uma
dimensão abstrata provedora de significação.
As paisagens ou figuras
estruturam-se a partir da relação conjuntiva das cores e sua planificação
abstrata. A dimensão abstrata apresenta-se como provedora da figuração e
significação da obra.
3 – A apreensão de um universo temático como vivência não reflexiva.
O expectador é tomado pelo
conjunto figurativo. O contato com a obra dá-se pela imersão vivencial. Vive-se
a obra como figuração de uma realidade onde a consciência está imersa como
parte integrada e não reflexiva.
4 – A obra como ocultação do intento do artista.
A conjunção entre dimensão
abstrata e figurativa gera a multiplicidade de significação. Conseqüentemente o
intento criativo do artista torna-se oculto ou obliterado pela vivência
subjetiva do expectador.
5 – A obra como jogo de apreensão de vivências mediante a anulação do “eu”
expectador.
Na pintura de Felipe Góes
traça-se a anulação da consciência reflexiva em prol de uma vivência apreensiva
da obra. A pintura de Felipe Góes não pode ser pensada antes de ser vivida em
sua significação.
Muito obrigado pela analise e divulgação de meu trabalho !
ResponderExcluirNosso dialogo foi muito enriquecedor.
abraços