sexta-feira, 15 de julho de 2011

UMA CONVERSA SOBRE CINEMA






ENTREVISTA COM ANTONIO NAHUD JÚNIOR EDITOR DO BLOG O FALCÃO MALTÊS



1 – Quando ocorreu seu contato com o cinema clássico?



Desde menino. Todos os domingos ia ao cinema com meus irmãos e amigos, mas sem qualquer direcionamento cinéfilo ou emoção especial. Víamos qualquer coisa, principalmente os filmes mais populares. Certa vez, meu pai levou-me a um cinema de arte. Desde então, minha vida nunca mais foi a mesma. O filme era “Amarcord”, de Federico Fellini, e eu fiquei totalmente possuído por toda aquela beleza poética. Passei a ler sobre cinema e a procurar clássicos nas madrugadas da tevê. Visconti, Minnelli, Cukor, Antonioni, Bergman... Cada descoberta abria infinitos caminhos no meu ser. Foi um toque de mágica. Inesquecível.



2 – Em face da banalidade midiática que assola o cinema, sobretudo os filmes de entretenimento repletos de violência, sexo e efeitos especiais, quais seriam as características que tornariam um filme parte do grande cinema, ou seja, o cinema de arte?



Não sou nostálgico, mesmo amando profundamente o cinema de outros tempos. Acredito que os filmes comerciais, sem qualquer pretensão artística, sempre foram mais populares e produzidos em maior quantidade desde o início do cinema. Um filme especial para mim precisa me emocionar e levar estampada a assinatura do diretor, ou seja, estar evidente que é uma criação personalizada. No entanto, não sou radical, acho que vale a pena ver alguns filmes por certos atores, pelo seu impacto mundial ou mesmo por pura diversão.


3 – Falando sobre a banalidade sexual, a exploração da imagem feminina no cinema. Atrizes como Catherine Deneuve, Tippi Hedren, Grace Kelly, Elizabeth Taylor, apenas para citar algumas, expressavam o perfeito equilíbrio entre a beleza e o talento. Esse tipo de atriz estaria extinta no cinema atual?


Claro que não. Posso enumerar dezenas de atrizes belas do passado e sem qualquer talento. Hoje? Belas e talentosas? Kate Winslet, Jodie Foster, Marion Cotillard, Juliette Binoche, Leandra Leal, Natalie Portman, Pilar López de Ayala, Rebeca Hall, Halle Berry, Winona Ryder, Michele Williams, Jennifer Connelly, Nicole Kidman, Rachel Weisz, Keira Knightley etc.


4 – Comente sobre a importância de cineastas como Ingmar Bergman, Robert Bresson, François Truffaut, Luis Buñuel e Alfred Hitchcock.


São grandes realizadores. Eles pareciam não se preocupar com tendência generalizada e partiam para um cinema autoral, revelando seus questionamentos mais profundos. Com sensibilidade e muito talento marcaram a história do cinema. Bergman, para mim, é o maior de todos. Os seus filmes são únicos, densos e profundos. Bresson talvez seja o mais difícil, não é para todo mundo. O seu cinema é aparente simples, mas guarda uma intensa magia. O genial Hitchcock é o rei do suspense. Gosto do humor ácido de Buñuel e sua peleja com a religião católica. Truffaut é um poeta. “Jules e Jim” é um dos filmes mais tocantes que vi.


5 – Qual sua opinião sobre os cineastas Lars Von Trier e Michael Haneke?


Respeito-os, acho que são talentosos, mas confesso que me incomodam e alguns dos seus filmes até me irritam. Haneke glorifica a violência, embora seja capaz de obras-primas como “A Professora de Piano” e “A Fita Branca”. Trier erra mais que acerta, parece que faz questão da polêmica, de chamar a atenção, como se fosse um menino carente. Gosto dos primeiros filmes dele, “Ondas da Paixão” e “Europa”.


6 – Qual sua opinião sobre o cinema brasileiro?


Ainda não encontramos um rumo. Vez ou outra surgem filmes bacanas como “Lavoura Arcaica”, “Desmundo”, “Carandiru”, “Cidade Baixa”, “Baile Perfumado”, “Amarelo Manga” ou “Central do Brasil”, mas não é o habitual, o freqüente. O nosso cinema conta com ótimos atores, diretores e técnicos, mas – talvez pela necessidade de sobrevivência – quase sempre aposta no simplório, no repeteco da estética televisiva, nas historinhas ridículas tipo “Bruna Surfistinha” ou “Cilada.com”.


www.ofalcaomaltes.blogspot.com

2 comentários:

  1. Muito interessante a entrevista. Me fez lembrar de como meu filho tomou gosto pelo cinema.
    Quando ele era pequeno eu o levava comigo para assistir os filmes num Centro Cultural. Vimos o ciclo do cinema alemão, francês, italiano, etc. Eu pensava que ele não prestava atenção, mas até hoje ele fala sobre alguns filmes daquela época e procura assisti-los. Agora ele formou um cineclub e uma vez por semana passa uns filmes diferentes para a moçada conhecer.

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, caro amigo. O seu blog é incrível.
    Fiquei contente com o convite.

    Abraços,

    O Falcão Maltês

    ResponderExcluir