domingo, 31 de janeiro de 2010

UM POEMA DE RAIMUNDO CORREIA

(Marc Chagall)
NUVEM BRANCA

Dizei-me: é ela a noiva casta e pura,
Que no alvor dessa nuvem rutilante,
Passa agora? Dizei-me, neste instante,
Turbilhões de translúcida brancura;

Colar, broches de perolas e opalas;
Gaza que, em níveos flocos, por formosas,
Rijas pomas de mármore, ondulosas
Curvas e espáduas de marfim, resvalas...

Dizei-me, branca, virginal capela;
Nítida espuma de nevadas rendas;
Alvos botões de laranjeira; prendas
Simbólicas do amor; dizei-me: é ela?

É ela a noiva? É mesmo, ou prazenteiro,
Seu doce olhar? Sorri alegre, ou chora,
Seu semblante gentil oculto agora
Do espesso véu no altíssimo nevoeiro?

É ela, sim! Su’alma, entre os fulgores
Das claras tochas cândidas e ardentes,
Nas querúbicas asas transparentes,
Voa, festiva, a um tálamo de flores...

Mistérios nupciais, só vos devassa
Um louco amante! Ao seu olhar ansioso
Velais debalde o arcanjo, o astro radioso
Que, dentro dessa nuvem branca, passa...

2 comentários:

  1. Gosto muito. Um prazer ler este poema: o branco num tom ainda romântico.

    Abraços.

    Jefferson

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  2. Prezado Jefferson, sua presença em meu blog é uma honra. Gosto muito do Raimundo Correia. Um grande poeta um tanto esquecido pelas inconsequências do modernismo.

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