CANÇÃO DAS CINZAS DA TARDE
As cinzas da tarde descem
sobre o horizonte que arde
em agonia, e o que tecem
vem das cinzas de outra tarde.
Lembras-te, amor? Não te lembras.
És esquecimento e calma.
E entre as coisas que deslembras
está o que eu chamava alma
em mim, e que hoje também
se esquece de si, cansada
de se sonhar e ninguém
sonhar do seu sonho. Nada
foi colhido dessa hora
senão o vê-la passar.
Olho estas cinzas de agora
apagando as luzes do ar
– eu, aqui, sem quem me guarde
de ressentir sempre, assim,
quando agoniza uma tarde,
esta história que, enfim,
jaz nas cinzas de outra tarde
(de outra tarde – e de mim).
Poesia Reunida. Ed. Record
As cinzas da tarde descem
sobre o horizonte que arde
em agonia, e o que tecem
vem das cinzas de outra tarde.
Lembras-te, amor? Não te lembras.
És esquecimento e calma.
E entre as coisas que deslembras
está o que eu chamava alma
em mim, e que hoje também
se esquece de si, cansada
de se sonhar e ninguém
sonhar do seu sonho. Nada
foi colhido dessa hora
senão o vê-la passar.
Olho estas cinzas de agora
apagando as luzes do ar
– eu, aqui, sem quem me guarde
de ressentir sempre, assim,
quando agoniza uma tarde,
esta história que, enfim,
jaz nas cinzas de outra tarde
(de outra tarde – e de mim).
Poesia Reunida. Ed. Record
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