Se o nu é menos um “tema” da arte do que um de seus territórios essenciais, é que o erotismo encontra na obra de arte sua necessária e legítima presença (até na arte mais modesta, tal como as esposas nuas pintadas no interior dos baús de casamento, na Idade Média). O nu suscita uma emoção específica; é com o nosso próprio corpo de carne que o percebemos, e as sensações que agitam nosso ser multiplicam, sublimando-a, a emoção erótica que o nu nos proporciona. Por sua formação, a glorificação dessa matéria viva com a qual o espectador também é modelado reconcilia-o com seu próprio corpo; contemplar um nu apazigua o desejo e confere ao olhar uma serenidade que a presença imediata de uma nudez proíbe; através da miragem da imortalidade de um corpo penetrado de espiritualidade, o nu parece revelar a ordem e a harmonia do mundo.
Michel Ribon, A arte e a natureza. Ed. Papirus
Michel Ribon, A arte e a natureza. Ed. Papirus
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