segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DOIS SONETOS DE RAIMUNDO CORREIA

(Enrico Bianco)

SAUDADE

Aqui outrora retumbaram hinos;
Muito coche real nestas calçadas
E nestas praças, hoje abandonadas,
Rodou por entre os ouropéis mais finos...

Arcos de flores, fachos purpurinos,
Trons festivais, bandeiras desfraldadas,
Girândolas, clarins, atropeladas
Legiões de povo, bimbalhar de sinos...

Tudo passou! Mas dessas arcarias
Negras, e desses torreões medonhos,
Alguém se assenta sobre as lájeas frias;

Em torno os olhos úmidos, tristonhos,
Espraia, e chora, como Jeremias,
Sobre a Jerusalém de tantos sonhos!...


FASCINAÇÃO

Todo o teu ser contemplo agora; e é quando,
Só para o contemplar até prescindo
Do meu; e enquanto o meu se vai sumindo,
Vai o teu aos meus olhos avultando...

Assim quem vai o píncaro galgando
De uma alta serra, do horizonte infindo,
Nota que, à proporção que vai subindo,
Se vai em torno o círculo ampliando...

E, ínfimo em face da amplidão tão grande,
Fosco, a pupila com pavor expande...
Abaixo mares vê, selvas, cidades,

Montanhas... E até onde o olhar atinge,
À imensidade esplêndida que o cinge,
Vê ligarem-se mais imensidades...

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