segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MILAN KUNDERA: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER




Nos países comunistas, a inspeção e o controle dos cidadãos são atividades sociais essenciais e permanentes. Para que um pintor consiga permissão para expor, para que um simples cidadão consiga um visto para passar férias à beira-mar, para que um jogador de futebol seja aceito no time nacional, é preciso em primeiro lugar que se reúnam todas as espécies de relatórios e de certificados que lhes digam respeito (do porteiro, dos colegas de trabalho, da polícia, da célula do partido, do comitê da empresa em que trabalha) e esses atestados são, em seguida, completados, revistos, avaliados, recapitulados por funcionários especialmente destinados a essa tarefa. Aquilo que é mencionado nesses atestados não tem nada a ver com a aptidão do cidadão para pintar, jogar futebol, ou com seu estado de saúde que pudesse estar justificando uma temporada à beira-mar. Só importa uma coisa, aquilo que se chama “o perfil político do cidadão” (aquilo que o cidadão diz, pensa, como ele se comporta, se participa ou não dos desfiles do 1º de maio). Tendo em vista que tudo (a vida cotidiana, a promoção e as férias) depende da maneira como a pessoa é julgada, todo mundo é obrigado (para jogar futebol no time oficial, para fazer uma exposição ou passar férias à beira-mar) a se comportar de maneira a ser bem julgado.

2 comentários:

  1. Se vc for em certos círculos "literários" de São Paulo, vc verá muito panfleto marxista cultural puritaníssimo tentando se passar por literatura

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  2. Bardo, o marxismo não passou de uma farsa, e como toda farsa teve um efeito nefasto. E ainda tem!

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