domingo, 22 de novembro de 2009

DOIS POEMAS DE RODRIGO DE HARO

NADA É FIXO NA FACE DO POETA

Nada é fixo na face do poeta
Seu rosto é lisa mancha solar
Espectro
Ele desce ao jardim do lago
Diante da Noite.
Os sóis interceptados giram em sua testa
Sóis imperceptíveis de constelações
Insuspeitadas
Enquanto
Um pássaro liberta-se dos linhos
Entre Andrômeda e a estrela da tarde
Em torno dele giram estandartes e lembranças
Giram doze casas de planetas
Seu Duplo gira
Verde e negro no coração das esferas.

O poeta quase que não lembra
Sua forma fixa
Na aparência livre fluir do tempo
Fita por acaso o espaço
Em que se volatiliza a tensa face amada
O poeta e seu poema:
Estão rodeados de névoas em seus duelos
Antípodas
Cegos por mesma seta de amor
Que aos tumultos não se furta
Nem detém o fluir um no outro
De chama e orvalho
Água e Labareda
A lágrima salgada que na concha da língua
Em pérola de pronto se transforma.

O poeta e seu poema
Árduo e festivo sempre o seu Dilema.



ESTAMPA DO CÃO SENTADO NUMA CADEIRA

Delicadíssima relação dos cães
com a morte. Quero
morrer como cão, fitando
as coisas transparentes.

Em piedosa aridez
eu me aproximo sem levantar
as orelhas. Estendo
as patas e me deito

fitando o horror das coisas
transparentes, roendo
um fêmur seco.

Nada sabe ele. Tudo
é inacabado e aspira
ao vazio da rua em que nas-
cestes: sibilino, arbóreo,
transparente e lúcido

sopro na colina.

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