(Alfredo Volpi)
Ode à bandeira
Para Jorge Tufic
Verde, amarelo, azul
e branco
Nosso foco míope,
nesse dezembro escarlate
‒ com suas horas
retintas ‒ ,
ignora a aurora,
despreza a lona do circo austral
de estrelas
impregnando o azul da Nação
com
a face
perdida na orgia.
E, essa,
desfigurada,
revisita seus mortos,
homens,
pássaros,
plumagens,
poesia desgastada.
E estendida a flâmula
sobre o bastião da América
ensaia o remendo
do pavilhão desfeito.
Há de combinar auroras,
madrigais
sob parcas velas,
Sol à pino
de soberbas musas,
o azul do estio
agreste,
pinceladas anis
de Portinari,
festivas bandeirolas de Volpi,
flores de Bracher
e o olhar fulminante
dos santos de Solha.
Há de buscar o irrealizado,
e cobrir a poalha
estendida sobre a consciência.
Há de desfazer
o irremediável
suspiro das águas
baças de espuma,
cravejadas de plásticos
que refringem o sol
e sufocam os peixes.
Há de refazer a sinuosidade
secular dos rios,
que ardem sufocados
pelas mantas de concretos.
Fazer brotar as piracemas,
de escamas furtacor,
a gargalhar inocência.
Há de curar a mágoa
de Iracema –
distribuir oferendas
de contas nos remansos
a se transmutar
em coachar noturno.
Há de dourar
as negras coxas
com grilhões
de justiça,
desnortear o rumo dos
igarapés
no descaminho
das borboletas amarelas.
Há de escorrer
ouro das falésias
no Atlântico
sem fim.
Há de distribuir
o santo daime
na celebração das ocas,
polvilhar o verde
nas loucas esquinas
da miséria.
Preencher a atmosfera
com paragens bucólicas
onde o carvão
se regenere em matas
e os germes
pereçam sob a guarda
das harpias.
Há de perder-se
na remora
das paisagens
e sentir-se
terra.
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