quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MARIEL REIS: POEMA

 
(Renoir)
 

O Banho
 
 
 
Ao longo dos braços brancos
 
As marcas dos meus desejos,
 
Todas sulcadas: pequeno riacho
 
Por onde escorre a água do batismo
 
Do meu amor tardio que se calava.
 
 
 
Sobre o ventre macio se formava
 
Uma pequena ilha onde me refugiava,
 
As ondas mornas partiam a cada movimento
 
Das suas mãos espadanando como peixes
 
Que invadiam as minhas madrugadas.
 
 
 
O esmalte da banheira em que você deitava
 
Os pés apoiados em sua borda como plantas,
 
E sua voz ensangüentada. E a água resvalava
 
Por seus seios, instalada como em uma varanda
 
Eu escrevia meus anseios em uma tábua
 
 
 
Tal profeta que nada soubesse sobre a tarde
 
Que descia discreta sobre as suas pálpebras,
 
E descesse à floresta submersa e de lá arrancasse
 
As hordas em disparada dos deslumbramentos
 
Refletidas em sua fronte prateada.
 
 
 
Ao longo dos seus bocejos esvoaçam tranqüilos
 
O bando de nuvens estacionado em seus olhos,
 
De sua boca levemente escorrem os salmos
 
Dos navios desembocados na morte e lá o aviso,
 
Para os que escaparam de tal sorte:
 
 
 
“Desvia-te, ó peregrino, de terras movediças”.

Um comentário:

  1. Gostei do blog e deste poema em particular. bem-haja por nos dar tantos poemas e poetas.

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