(Alfredo Volpi)
O dia de meus anos
Para W.J. Solha
É o dia em que faço anos.
Nenhuma ou pouca importância.
Lá, no quintal, estão as
crianças
E eu, aqui, dentro do quarto,
Rabisco no caderno as
lembranças.
É o dia em que faço anos.
E lá fora também o devem
comemorar
As coisas com nascimento
remoto
Com pouca ou nenhuma
consciência
Que nasceram e nada sabem do
ciclo
De crescer, amadurecer, ter
filhos,
Morrer confinado em
lembranças
De um distante domingo,
Com amigos na varanda.
Discutíamos
Heráclito, Píndaro e Ovídio
E não nos molhávamos mais no
mesmo rio
Que um dia nos banhou em
nossa infância.
E não nos afligíamos.
É o dia em que faço anos.
Costuma-se celebrar o antigo,
Aquele que mais tempo leva a
desgastar-se
Aquele que o tempo não tem
como inimigo
E passa os dias a juntar-se
do que foi vivido.
É um dia de celebração, enfatizam
os filhos.
Cercado pelas fotografias
amarelecidas,
Constato que outro me
habitava tão diferente...
Mas será comigo reduzido a
nada
Nesse tempo tão presente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário