sábado, 2 de abril de 2011

ANTÓNIO RAMOS ROSA: POEMA



A Mulher

Se é clara a luz desta vermelha margem é porque dela se ergue uma figura nua e o silêncio é recente e todavia antigo enquanto se penteia na sombra da folhagem. Que longe é ver tão perto o centro da frescura e as linhas calmas e as brisas sossegadas! O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço que no umbigo principia e fulge em transparência. Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo que em espiral circula ao ritmo da origem. Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa. O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar. Quase dorme no suave clamor e se dissipa e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

2 comentários:

  1. Neste blog sempre há o que colher. Da melhor qualidade. Agora terei mais tempo de vir aqui com calma, se Deus quiser.
    Um abraço.

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  2. Que lindas imagens! Gosto muito de António Ramos Rosa. Bela postagem, amigo!! Abraços. Jefferson.

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