sábado, 2 de abril de 2011

DAVID MOURÃO FERREIRA: EPIGRAMAS




EPIGRAMA


Hão de chegar-me pouco a pouco os bens do mundo,

como chega o socorro ao barco naufragado:

quando o mar estiver calmo, o navio no fundo,

o óleo derramado.



EPIGRAMA PARA UMA SEGUNDA DESPEDIDA


Eis o que espanta: ainda nós sabemos


os gestos rituais de despedida!


E, tarde ou cedo, à noite adormecemos,


embora sem a alma adormecida.




EPIGRAMA PARA UMA TERCEIRA DESPEDIDA


Eu vi a eternidade nos teus dedos!

Eu vi a eternidade, e amedrontou-me

Saber, tão de repente, tais segredos.

-- Eu não mereci, sequer, saber-te o nome.



INSCRIÇÃO SOBRE AS ONDAS



Mal fora iniciada a secreta viagem

um deus me segredou que eu não iria só.


Por isso a cada vulto os sentidos reagem,

supondo ser a luz que deus me segredou.

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