sábado, 27 de junho de 2009

Entrevista com o poeta Jean N. B. Moura


1) – Como ocorreu seu contato inicial com a poesia?

Lembro que ainda na oitava série do ensino fundamental despertei para o gosto literário, apareceram nesta época os meus primeiros poemas quiçá mais tarde um poeta (risos). Tive uma professora chamada Regina que sempre acreditou em minha capacidade de escrita e ouvi pela primeira vez de sua boca que era poeta e acredito nisso até o dia de hoje.

2) – Como é seu procedimento ao escrever um poema?

A aparição de minha poesia se dá em situação de conflito, um acerto comigo e o mundo, busca de pacificação mental. Geralmente ela surge quando estou caminhando na rua, em casa, em meu local de trabalho, no ônibus, sou afligido por algo que me impulsiona a escrever, porém, este texto exige trabalho, constantes reescritas e um processo de amadurecimento, período em que engaveto por longos meses e às vezes anos.


3) – O que é poesia para Jean N. B. Moura?

Possibilidade de lançar a minha própria profecia, um ato de laicizar os sonhos humanos, extraindo-o para um plano real, onde as mãos e o pensamento possam alcançar sem se entregar às divagações que subtraem os apelos sensoriais e racionais, uma poesia do homem para o homem, vista em qualquer dimensão numa linha horizontal.

4) – Como você vê a relação entre poesia e filosofia? A linguagem poética seria o caminho mais propício para expressar o Ser?

Quem escreve busca resposta procura responder para si e posteriormente para outrem alguma coisa que parece nublada, que ainda não tem a nitidez necessária, portanto a poesia é parte da filosofia na concepção de proporcionar perguntas que inquietam o individuo, no caso o poeta, um construtor de indagações.


5) – Em Excursão Incógnita, você diz “Ouço a poesia em um idioma que jamais conheci/A beleza de sua voz não conhece o relógio/Sou analfabeto quando leio a sua escritura”, a dimensão poética extrapola a pretensão do poeta de encerrá-la no poema? É possível uma poesia de cunho puramente racional?

O homem não escolhe a poesia, não escolhi ser poeta, apareceu para mim está condição, e não a renego, pois se a renegasse certamente estaria perturbado. Por isso escrevo e acredito por mais que sejamos capacitados intelectualmente jamais nos aproximaremos em força poética de um poeta de renome internacional, um prêmio Nobel de literatura, se não tivermos a força de sugar as sensações universais da possibilidade de captar os sentimentos de um homem de Londres, da Índia até aquele dos mais remotos arquipélagos da Oceania. A poesia não se faz apenas com técnica, é preciso de criatividade aquela que parece espantar e demolir toda desesperança, uma espécie de ressurreição, este é o papel do decifrador de idiomas desconhecidos, inconfesso caçador de esmeraldas literárias.


6) – Como você vê o atual panorama da poesia brasileira contemporânea? Qual o papel da internet em termos de divulgação de poesia?


Apesar de estar longe do cenário poético atual, de me considerar uma voz distante, quase inaudível, vejo que a poesia está em um momento bastante produtivo, precisaríamos de cinqüenta anos a nossa frente para olhar e ver a beleza de nossos poetas, temos muitas vozes que insistem em dizer que nossa produção é apenas mimetismo de vozes anteriores a nossa, pelo que sei a única poesia autêntica é a dos gregos, as demais são mimeses. A Internet colabora na difusão de vozes poéticas novas e ainda desconhecidas, importante aliada para que todos aqueles que tem dificuldade de ingressar no mercado editorial ou ainda não tem um material suficiente para publicação, tenha seus textos divulgados e lidos na rede mundial de computadores.


Poemas de Jean N. B. Moura

Distância cega

Enxergo com os pés o caminho
Esqueço que ele cheira queimado
O amarelo desfila como um sultão.
Os cílios, as pálpebras que viraram cinzas.
Forram a urna com um pano verde
E anuncia em silêncio a minha história.

Os soldados cansados

A distância causa cegueira
Em algum lugar
Mais longe do que a força
Dos meus pés.
Alguém desenha um Himalaia com um graveto
Eu que sempre vivi nas planícies.


Constatação

Mergulho no escuro
No porão dos humanos
Lá o veneno da víbora é dócil como qualquer uma dessas borboletas.

Poética

Mergulho no claro
Na profecia que levita os meus pés.

Ausência da rosa

As profecias carnais já foram ditas
Remanesce a sensação de pescar baleia em rio seco.
O tempo guilhotinou a frase virgem
Homens antes de nós, deitaram em sua rosa.
Segredos guardados apenas aos vivos colibris.
Homens e mulheres se acocoram na reinvenção solitária.

(Do livro Excursão Incógnita)

Um comentário:

  1. Poeta Jean Narciso,
    Gostei muito do que li na sua entrevista e posteriormente uma amostra dos seus poemas. Parabens!
    Grande abraço,
    Regina Lyra

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