sábado, 20 de julho de 2013

W.J.SOLHA: ESSE É O HOMEM - EXCERTO I

(Paul Klee)


Flagrem-se os mistérios.
Do vidro, do espelho, do sonho.
Dos
cemitérios.

Flagrem-se negras noches y blancos días
quadrinizados pela primeira vez no extraordinário e antiquíssimo calendário abstrato xadrez,
em que se põe em jogo nossos sueños  - todos - y agonias.

Flagre-se o horizonte, que – quando chega - quica na mente e é outro,
distante,
como cada amanhã quica a cada manhã,
e é outro,
adiante,
ao tempo em que o que é hoje,
quica pra trás
e é ontem,

tudo tão louco quanto,
do barco - que parece parado – ver o cais que chega,
pesado,

tão  droga na veia quanto ponteiros mostrando, na lua cheia,
que são três e meia,

ou arte,
cujo  fim põe o arremesso,
o começo,
onde se sabe - sem receio - estar a verdade:
no meio,

arte  – sem véu:
círculo branco,
que é lua,
se em campo azul,
que é o céu.





Flagre-se o rio,
que vem no planalto,
e tem,
de repente,
o susto,
salto,
e,
do fundo,
volta,
vê o mundo
e segue,
aos trambolhões,
na planície,
até que a normalidade lhe volte
à superfície,

entre mármores e granitos de atlântidas,
babilônias e
egitos,

enquanto o geométrico plantio cada vez mais constrange a indisciplinada mata,
até onde a vista abrange,
e a encurrala,
cada vez mais rala,
e a mata.

Flagre-se a transição da vigília – com fome - ao sono,
quando,
por exemplo,
a onda se ergue de surpresa - grande e negra – cheia de garras e presas,
contra o dólmen,
que é – de fato – feto do templo
do Homem.

Aí o fogo se eleva,
queimando a treva.





Flagrem-se os teus olhos – com teus universos – correndo por estes versos como  num aqueduto,
ou como trem, célere, num viaduto,
a  sombra a se precipitar,
encosta abaixo,
pro vão nas pedras,  nas quais salta – numa zoada de sismo - do close pro abismo,
em que trepida nas lápides, lépido,
e,
ziguezagueando rápido,
sobe,
do outro lado,
pela pedreira,
na barulheira estúpida,
até ver,
no  alucinatório movimento giratório dos braços de aço que se esfalfam nas rodas da ativa locomotiva,
o Tempo à toda, 
em busca do Espaço em que se possa  - em paranoia – ter a destruição de Ílion,
Tróia de Virgílio,
Spartacus crucificado entre os pinheiros da Via Ápia -  entre Roma e Cápua -,
ao lado de seus companheiros,
a zoom agora em Ulisses – com nome de Bloom -  na odisseia incomum da ideia, em 1904,
de que Joyce faz o retrato,
a luz, então, sobre Quixote e  seu ogro,  que são Gordo e o Magro e – de repente – são esguio e dourado androide,  mais o roliço e baixote esquizoide,
figuras que somente iremos vê-las
na guerra das estrelas,

o tempo do vento fazendo girar os ponteiros loucos do moinho,
que não são poucos,

daí Metropolis cheia de aviões entre elevados com trens e automóveis correndo pra todos os lados,
como as atuais megalópoles,

ou a pintura  – inesperada, em ruínas cheias de epopeias – da jarra de vidro com água de coco,
em Pompeia,

ou a tira em quadrinhos de ação contínua que vai em caracol, do chão ao sol, na coluna que é sintoma da grandeza de Trajano,
em Roma,
na qual milhares de soldados
em sólido 3-D,
superam – na superprodução – os milhares de  guerreiros chins,
de terracota,
em tamanho natural,
do imperador Qin,

e a Evolução sofre a
revolução:
onde o início,
o fim?

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