sábado, 16 de maio de 2009

Entrevista com a poeta Regina Lyra



1) – Como ocorreu seu contado inicial com a poesia?

RL- A poesia sempre fez parte da minha vida, desde a época da infância, quando meus pais organizavam os filhos e amigos e recitavam poesias. Como sou filha temporã, um dia declamei uma poesia do livro da escola, foi uma festa. Fui tomando gosto pela declamação, na época. Posteriormente, no início da adolescência, comecei a escrever meus primeiros poemas. Gostava muito de declamar poemas, para mim a poesia sempre foi fascinante. Muitos dos meus poemas da adolescência estão publicados no meu primeiro livro – O Livro das Emoções, publicado em 1998.


2) – Quais são suas influências literárias?

RL- As influências são fases da vida, posteriormente selecionamos aquilo que nos toca profundamente e diz o que gostaríamos de ter dito.
Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Os sonetos de Bocage, Augusto dos Anjos, foram leituras freqüentes. Cecília Meireles, os textos de Clarice Lispector são verdadeiros poemas.
As leituras se diversificam, outros autores vão tomando conta da nossa cabeceira: Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Jorge Luis Borges, Mallarmé, Bertolt Brecht, entre tantos outros.


3) – Como é seu procedimento ao escrever um poema?

RL- Iniciamos um processo da busca do nosso eu poético, cada poema é um grito, um sussurro.
Um protesto, um amor.
Tenho bastante disciplina no ato da criação. Escrevo um poema. Deixo maturar a idéia. O reescrevo até achar que está pronto. Muitas vezes publico e depois ainda quero modificá-lo. É o tempo.

4) – O que é poesia para Regina Lyra?

RL- Poesia é uma escolha de vida. A poesia está em todo lugar. Mas apenas o (a)s poetas a descrevem através dos poemas. Escrever, publicar, tornar-se poeta, ser lido, dizer o que os outros gostariam de ter dito. Isto é a arte poética.

5) – Praticante de uma poesia lírica, como você vê o lirismo nos dias de hoje? Existe espaço para uma poesia lírica pós João Cabral de Melo Neto?

RL- O lirismo jamais acabará. Toma outras formas. A poesia de João Cabral de Melo Neto é uma poesia forte, sofrida. Fala o que o povo sente.
Poetas de hoje, como Afonso Romano de Sant’Anna, tantos poemas líricos escreveu e escreve. Tudo pode acabar, menos o amor. Este supera o tempo e o espaço. Enquanto houver amor, haverá poesia. O amor é a esperança e a busca pela felicidade. Não o lugar comum, mas um amor criativo, superlativo.

6) – Como você vê o atual panorama da poesia brasileira contemporânea? Quais os poetas que você destacaria?

RL- Temos tantos poetas que se destacam nas suas regiões e são totalmente desconhecidos de um Estado para outro, este é o problema de um país continental. A internet quebrou as fronteiras.
No panorama da poesia brasileira vejo muitos nomes, citarei apenas dois: Reynaldo Valinho Alvarez e Adélia Prado.

Regina Lyra
João Pessoa, 04 de maio de 2009



POEMAS DE REGINA LYRA


HIPÓTESE

São tantas premissas
Verdadeiras, falsas,
Inteiras.
Para esclarecer hipóteses
Eventuais
Do amor primeiro
Ou do desejo derradeiro?

Neste limiar absoluto
Dos desejos interruptos
Sentir no coração os apelos
Obsoletos.


ECLIPSE

Quando a Lua se esconder totalmente,
O Sol a cobrirá.

As lembranças chegarão às mentes.
Saberemos o que fomos
E o que somos.

Certamente, a Lua,
De cor dourada
Pelos raios do Sol
Encoberta, naquele instante
Terá momentos de total intimidade.

Neste encontro perfeito,
Os dois gritarão seus feitos,
O orgasmo atingirá todos os membros.
A Lua e o Sol
Chamarão pelos seus nomes
E matarão suas fomes,
No imaginário dueto.


COMO ACORDARÁS?

Sem ver as ancas
E o desejo instalar-se?

Como tocarás mansamente,
Despertado jogo
Apaixonado?

Como manifestarás desejo,
Sem vislumbrar na penumbra
Corpo seminu?

Último abraço na noite,
Último beijo,
Antes de adormecer.

O primeiro a acordar
Os gemidos ao despertar
A retirada rápida da camisola.
Fazer amor,
Desejar bom dia.


ÁRVORE FRONDOSA

A poesia é húmus que provoca frutos.
Ser poeta é algo intenso.

Portanto, o sofrimento
Magoa ao instalar-se.
Mesmo por momentos breves,
O amor se busca.
Encontram-se causa e efeito
Para novos encontros.

No amor descobre-se árvore frondosa:
Com beleza acaricia a essência,
Faz dos seus galhos, caminhos de Paz
E nos torna capazes de superar a dor.


SENTIMENTO MUDO

Palavras não compreendidas.
O silêncio torna-se eloqüente.
Neste mar bravio de gritos e silêncios,
Procuro um tempo de paz,
Que não nos deixe jamais.

Nos gritos emudecidos do meu olhar,
Busco os sussurros dos teus lábios.
Eles andam calados. Sem ter o que falar.
Refazem a mágoa do sentimento mudo.


VIAGEM

O tempo é inexorável.
As lembranças povoam a mente,
A saudade, esta contínua companheira,
Pensa em um passado sem volta.
Mas a lembrança vem junto com a memória,
Por isso grita por um passado alegre,
Perante um presente acanhado
E um futuro incerto
– São sobras.



O MEDO INEVITÁVEL

O medo é marca
De momentos distantes,
Mas, às vezes, está tão perto,
Parece sombra.

O medo do inevitável,
Da perda, do incomensurável,
O medo de ter perdido
O que nunca existiu.

(poemas do livro entre_Nós)

3 comentários:

  1. Gosto sempre de ler sobre você e sobre sua poesia, Regina. Sempre inspirada e autora de versos sensíveis e belos.
    Abraços.
    Marco Bastos.

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  2. Querida Regina
    És realmente inspiradora,leio um de seus poemas e logo sou impelido a criar, despertastes o poeta que há em mim.
    Felicidades

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  3. Regina, minha querida amiga...Tuas palavras são como pássaros cujas asas de fogo não consomem a tinta sobre o papel, mas sim planam suaves por entre as mentes. Libertando consciências, levam a lida da vida, os amores e dores de nossa existência física, à exponencial vivência das emoções. Feito ptonisa, segue dizendo o que outros não se atreveriam a revelar...e o faz assim, com a simplicidade dos lírios, a força dos rios em manhãs solares e a delicadeza das abelhas que fabricam o mel...


    Com amor,



    Mau

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